Páginas

domingo, 30 de junho de 2013

3013

Percebendo que já faz um tempinho (um tempão, na verdade) que não posto nada aqui no blog, e que meus poucos e fiéis leitores estão me cobrando, decidi reblogar um texto meu que foi originalmente publicado no Descobrindo Escritores. Este conto surgiu de um dos inúmeros desafios que o D.E. realiza, incentivando escritores a produzirem textos em períodos curtíssimos de tempo, e o desafio do qual o conto que você está prestes a ler surgiu era justamente sobre "Sexo".  Então, hum... divirta-se e... bem,  faça o que quiser, e, caso você entenda alguma coisa dessa história, me fala, porque eu escrevi mas não entendi porr* nenhuma.





Num futuro não tão próximo, mas também não muito distante, não existirá mais sexo. A ciência, sempre eficiente e milagrosa, conseguirá tirar este empecilho de nossas vidas, esta atividade tão selvagem e irracional. Os bebês serão todos criados em laboratórios… eu falei bebês? Desculpe meu equivoco. Os adultos serão todos criados em laboratórios, e já sairão de lá com 24 anos de idade, prontos para o mercado de trabalho, ganhando não apenas uma certidão de nascimento, como também um diploma universitário e um frasco de antidepressivos. Os cientistas acharam melhor cortar a infância e a adolescência, pois são fases da vida muito complicadas e problemáticas, que, no fim das contas, só servem para aborrecer os pais. Não preciso dizer que essa escolha acarretou a falência do mercado de fraldas e pornografia, é claro. E já que falamos nos pais, é interessante frisar que eles nunca tiveram um papel tão importante na formação dos filhos como agora. Não estou falando apenas da formação moral não; refiro-me também à formação orgânica. Sim, “formação orgânica”, pois agora os pais podem escolher tudo na composição dos filhos, desde cor do cabelo, formato dos olhos, profissão e até gosto musical e tamanho da bunda, que não são muito grandes, por sinal. E já que falamos em música e bunda, quero informar que o funk e as mulheres frutas já não existem mais. Eles foram exterminados em 2078, numa revolução que ocorreu logo após a Mulher Abacate III tornar-se presidente do Brasil e transformar uma música do MC Hímen ― filho do Mr. Catra com a Valesca Popozuda ― no hino do Brasil. Os revoltosos tiraram os funkeiros do poder, e agora o hino do Brasil é um sertanejo universitário.

O que importa é que agora o mundo é um lugar lindo para se viver, com 14 bilhões de pessoas loiras, com dois metros de altura e olhos azuis. Claro que sempre tem aqueles pais rebeldes que colocam olhos verdes nos filhos ― uma breguice sem tamanho ―, mas esses são poucos. Contudo é importante deixar claro que, mesmo numa sociedade tão evoluída como esta, ainda existem resquícios da selvageria humana. A maior prova disto é o fato de que muitos homens e mulheres ainda se interessam pelo prazer sexual. Procurando se aproveitar deste desejo insaciável da humanidade, os cientistas ― sempre eles ― da Assky Corporation desenvolveram um pirulito com o poder de satisfazer o apetite sexual das pessoas. Utiliza-lo é muito simples: você abre a embalagem, coloca o pirulito na boca, chupa e goza (não o pirulito, você). E ele ainda tem a vasta gama de dois sabores, “Uva” e “Não é Uva”. É claro que a Assky faturou rios de dinheiro com essa invenção, e o presidente da empresa foi, inclusive, indicado ao Nobel da paz. A humanidade viveu séculos de harmonia e prazer a baixo custo. Viveu, até que…

Num belo dia ensolarado, um grupo de arqueólogos fazia uma escavação próxima à cidade de Junu Z24-i, antigamente conhecida como Caruaru, em busca da lendária cidade de Brasília. Eles não encontraram Brasília por um pequeno erro de calculo, é claro, mas acharam algo muito mais impressionante: um exemplar em perfeito estado ― com apenas algumas páginas coladas ― de 50 Tons de Cinza. Os arqueólogos ficaram extremamente surpresos e empolgados com a descoberta, mas a imprensa não demonstrou mais interesse pelo fato do que demonstraria por um pombo que cagou na cabeça de um técnico em informática. Cabisbaixos, os estudiosos juntaram suas tralhas e voltaram a procurar pela lendária “Cidade dos Canalhas”, mas pouco depois de partirem de Junu Z24-i, eles foram procurados por executivos da Assky que estavam interessados em sua nova descoberta. A multinacional adquiriu os direitos de reprodução e venda do livro, e, em troca, os arqueólogos ganharam um suprimento de pirulitos para a vida toda. É incerto o que aconteceu com eles depois disso. Algumas pessoas afirmam que nas noites de quarta-feira, veem um dos pesquisadores correndo nu pelos arredores de Junu Z24-i, com cinco ou seis pirulitos enfiados na boca. É claro que isso não passa de uma lenda (ou não).

Inicialmente, o interesse da população pelo livro foi pequeno, talvez por causa da linguagem rebuscada e dos “termos técnicos” desconhecidos presentes na obra, mas na medida em que as pessoas davam uma chance ao livro e ao conhecimento sexual arcaico que ele trazia, seu sucesso foi crescendo e, em pouco tempo, tornou-se uma febre. Todos ficaram surpresos ao descobrir que um pênis se encaixa numa vagina e, inclusive, muitas teorias conspiratórias foram fundamentadas neste fato. Mesas redondas com diversos estudiosos e intelectuais foram montadas para discutir a função do clitóris, e uma estudante de economia da China escreveu um TCC sobre a importância do gemido na geopolítica internacional que ganhou destaque na imprensa de todo o globo. 50 Tons de Cinza estava mudando a história do planeta.

Não muito longe do local onde encontraram o livro, na cidade de Hellcife, vivia um técnico em informática chamado José Austin II. Ele e sua esposa, Veridiana, se curtiam muito, e sempre tiveram uma vida sexual muito intensa, prova disto é que eles já haviam provado todos os dois sabores do pirulito da Assky. Buscando algo para apimentar a relação, José comprou um exemplar de 50 Tons de Cinza para fazer uma surpresa para a esposa. Quando ela chegou do trabalho, José mostrou-lhe o livro e, entre um olhar 43 e outro, leu alguns trechos da obra. Eles decidiram experimentar alguma das posições descritas no livro, escolhendo, por fim, uma que vinha com “PARA INICIANTES” escrito em alegres letras verdes ao lado e com uma carinha feliz. Não havia erro. Só que não.

― Essa perna que falam é minha perna ou sua perna? ― perguntou Veridiana, confusa.

― Sua perna. Não! Por aí não. É pelo outro lado. ― José fazia um esforço enorme para ajudar a por a perna da esposa na posição certa, mais parecia que não estava dando muito certo.

― Ai, José! O dedo é no buraco maior. No MAIOR!

É claro que a tentativa dos dois em praticar sexo arcaico fracassou completamente. Antes do fim da noite, ambos já estavam dentro de ambulâncias que voavam a todo o vapor em direção ao pronto-socorro. José ficou cego de um olho e perdeu três dentes, e Veridiana, coitada, ficou paraplégica. Após o ocorrido, os dois se divorciaram, e no meio de tanta confusão, acabaram esquecendo-se de ir buscar José Austin III no laboratório-maternidade, que “nasceu” duas semanas após o acidente. Ele passou a vagar pelas ruas e virou publicitário.

Este incidente não ocorreu isoladamente. Muitos outros casais enfrentaram problemas semelhantes, e foram registrados até casos que resultaram em morte. Algumas mulheres engravidaram. Acontece que as pessoas de 3013 não sabiam o que era engravidar, e as gestantes começaram a ser tratadas como aberrações. No entendimento geral, pequenos aliens estavam crescendo dentro delas ― o que não difere tanto assim da realidade. A população passou a persegui-las empunhando facões, pás e iPhones (na ausência de tochas). Líderes de diversas nações e instituições internacionais pressionaram a Assky para que ela tirasse os livros de circulação, e após o próprio presidente da empresa quebrar a bacia tentando fazer uma das posições “PARA QUEM JÁ É CRAQUE”, a multinacional concordou em recolher os livros. 50 Tons de Cinza ficou registrado para sempre na história como “o maior desastre do século XXXI”. Alguns entusiastas por teorias conspiratórias afirmam que o governo Norte Americanadense adquiriu, num acordo secreto com a Assky, boa parte dos livros recolhidos, e passou a utiliza-los em seções de tortura. É claro que isso não passa de uma lenda (ou não).

Um comentário:

Claudio Chamun disse...

Sensacional amigo.
Fico imaginando como seria a Mulher abacate III e o MC Himen kkk
Abraço.