Hugo andava com a cabeça baixa
pela rua escura, pensando no péssimo dia que teve. A nota baixa na prova de
matemática; o caderno que ele não fazia ideia de onde havia deixado; a sola do
sapato que começou a descolar. Tem dias em que tudo que poderia dar errado
acontece, e este, definitivamente, era um desses um desses dias. Não havia
vivalma na rua, e tudo o que se podia ouvir era um latido distante, e o som de
uma televisão ligada. Hugo chegou em casa; procurou a chave na bolsa e abriu a
porta silenciosamente. Pelo silêncio, presumiu que sua mãe estava dormindo. O
estado em que ele encontrou a sala o deixou assustado: os móveis estavam
revirados; as almofadas rasgadas; e o sofá estava praticamente virado do
avesso, totalmente destruído. Aparentemente, todas as luzes da casa estavam
acesas, mas não se escutava som algum, até que um barulho veio dos quartos.
Ele
largou a mochila no chão, e arrancou, o mais silenciosamente possível, um dos
pedaços de madeira do sofá destruído. Hugo caminhou cautelosamente pelo
corredor da casa, com a tora em mãos. Parou na frente da porta do quarto de sua
mãe, que estava entreaberta. Segurou a maçaneta e empurrou-a lentamente,
revelando uma cena que o deixou completamente aterrorizado. Sua mãe estava
sentada no chão, encostada na parede oposta, chorando, com boca e testa
sangrando. Um homem estranho revirava as gavetas com a mão esquerda, enquanto
que com a direita apontava uma arma para Tereza, mãe de Hugo. O bandido não
percebeu que ele havia aberto a porta, pois estava de costas para ela, mas
percebeu quando o garoto partiu para cima dele com o pedaço de madeira, mirando
sua nuca, e,
por reflexo, disparou a arma. Hugo acertou o lado da cabeça do homem, que caiu
desacordado. O garoto, instintivamente procurou um segundo bandido, mas tudo o
que encontrou foi sua mãe jogada no chão, com a blusa ensanguentada. Ele largou
a tora, e correu para junto de Tereza. Ela já não respirava mais. Seus olhos
estavam vidrados, e uma lágrima solitária derramava-se em direção a poça
vermelha no chão. Hugo tentou reanima-la, mas não havia mais nada a se fazer.
Ele envolveu o corpo da mãe em seus braços, sujando-se com o sangue fresco,
enquanto dava urros de dor e desespero. O garoto havia esquecido totalmente do
homem desacordado no chão do quarto, que começou a se mexer.
Hugo virou o
rosto para o bandido, que recobrava lentamente a consciência. Ergueu-se,
deixando o corpo de Tereza no chão, e caminhou até ele. O homem tentava
debilmente alcançar a arma que havia caído a alguns passos de sua mão, mas Hugo chegou
primeiro, pisando calma e pesadamente na mão que o bandido esticava, e pegando
a pistola do chão. A mais pura frieza estava estampada em seu rosto, como se
ele fosse um marionete, sendo controlado por fios invisíveis. Ele apontou a
arma para o bandido, que, quando percebeu, ficou aterrorizado.
— Eu não tive culpa. Ela... eu
precisava do dinheiro. Ela estava me devendo. Eu não queria... — mas Hugo não
deixou o homem terminar de falar.
Os vizinhos, depois de escutarem o
primeiro tiro, correram todos para a porta da casa de Dona Tereza. Ficaram
questionando-se, aos cochichos, o que estava acontecendo lá dentro, espantados,
pois Tereza e o filho não eram de se meter com coisas erradas — ou, pelo menos,
era isso que aparentavam. No entanto, quando se ouviram mais três tiros vindos
de dentro da casa, todos correram para suas respectivas residências, deixando a
rua, novamente, deserta e silenciosa.
5 comentários:
Nossa!Que texto forte! Cara tu tem talento e muito Talento! Cena forte,dramática e MUITO bem narrada,melhor do que muito livro que eu li ultimamente.
Tbm tenho um blog se puder ir lá dar uma olhada agradeço!
http://nandotarg.blogspot.com.br/
Obrigado Fernando!
= D
Dá-lhe Pedrão.
Sou fá dos teus textos.
Adoro ver bandido morrer.
www.cchamun.blogspot.com.br
Histórias, estórias e outras polêmicas
Obrigado Claudio!
Matar bandidos é o sonho de todo mundo, e nós, como escritores, temos esse poder.
Um texto que me fez pensar: O que eu faria?
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