“Olha aquela! Parece um sapo” falava
Ana, apontando para uma nuvem que flutuava placidamente no céu azul. Soprava
uma brisa suave e o sol brilhava radiante, mostrando-se como em uma renda
através das alvas nuvens. “Tá mais pra um piano” respondeu Luís,
concentrando-se no ponto para o qual a amiga apontava. “Piano? Você fumou o
quê? É um sapo. Olha a cabeça, as pernas...” respondeu a garota, sentando-se no
chão e apontando com ainda mais afinco para a nuvem-sapo. “Ah, é essa? Pensei que
você estava apontando para aquela. Realmente parece — um pouco — com um sapo”.
— Cala a
boca! Parece muito com um sapo! Você
está querendo tirar onda com a minha cara! — esbravejou Ana, irritada, jogando
terra no amigo.
— Sempre
estou tentando tirar onda com a sua cara, você deveria saber disso — Luís respondeu
enquanto tirava uma folha de grama dos lábios.
— Foi isso
que você tentou fazer com ele? — perguntou a garota, sem tirar os olhos do
horizonte.
— Isso o quê? E de quem você está falando?
— Não se faça
de besta! Você sabe do que estou falando. Todo mundo da escola está dizendo que
o Caio deu uma surra em você.
“É isso? Como tem gente mentirosa
naquela escola. Nós não brigamos. Ele não conseguiu encostar um dedo em mim...”
esclareceu o garoto em um tom arrogante, com a feição de quem havia acabado de
salvar o planeta. “Claro que ele não bateu em você, a diretora chegou antes”.
— Se você sabia o que aconteceu, então
por que veio dizer que ele deu uma surra em mim? — perguntou Luís, exaltando-se.
— Foi só pra tirar onda com a tua cara
— respondeu a garota com um sorriso expandindo-se em sua face. — E, de qualquer
jeito, se aquele babaca tivesse mesmo batido
em você, ele ia ver só uma coisa.
— Ia? Como assim?
— Eu iria atrás daquele bundão e daria
uma bela surra nele — respondeu Ana, apertando os olhos e fazendo cara de
brava.
— Você? Mas você não passa de uma
garota — Luís opinou, entre uma gargalhada e a incredulidade.
— Exatamente. Assim ele não poderia
fazer nada comigo. Quero ver se ele teria coragem de bater numa menininha inocente — ela rebateu,
falando em tom meigo.
— Tá meio difícil alguém acreditar que
você é uma “menininha inocente” — contestou o garoto, olhando apático para uma
formiga que andava perto dos seus pés. — Você faria mesmo isso por mim? — ele perguntou,
sem erguer os olhos do chão.
— Claro que faria! Você é meu melhor
amigo. Eu faria qualquer coisa por você — respondeu Ana quase gritando, mas
depois se envergonhou, e também ficou olhando para o chão, procurando sua
própria formiga.
Um longo silêncio planou entre os
dois, até que Luís decidiu quebra-lo. “Mas aquela nuvem, definitivamente, não
era um sapo”. “IDIOTA!” gritou Ana, pulando sobre ele como uma fera. Enquanto
ela enfiava tufos de grama na boca dele, Luís sujava os cabelos dela com
qualquer coisa que estivesse ao alcance de suas mãos. O sol permaneceu a vagar
pelo céu, derramando vida sobre a terra, e abençoando aquilo que nem o tempo
pode destruir. E a história continuou.
Dedico
este conto para Aline Luisa,
a
garota que me ensinou que a amizade é uma guerra,
onde,
para vencer, é necessário render-se.
4 comentários:
Que conto bonito. Senti saudade de ser criança. Eu gostaria de ainda ter amigos de infância. Ótima imagem esta, ilustrando o post. Sou pottermaniaco, rsrs
Nós podemos arranjar amigos de infância a qualquer momento da vida, eu acho, mas a medida em que o tempo vai passando, vai ficando mais difícil.
PS.:POTTERMANIACO ATÉ MORRER!! \o/
Ficou mais lindo ainda porque foi para mim.
Super super!
Emocionante.
Amizade verdadeira o tempo não destrói e a distância não separa.
Abraço amigo.
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